Por que carros elétricos estão no centro da disputa entre Trump e Musk
No repentino embate público de Elon Musk e Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos afirmou que está sendo atacado por cancelar políticas de incentivo a carros elétricos no país.
O motivo de irritação para Musk — CEO da Tesla — seria o fim do "decreto dos carros elétricos", previsto na nova lei orçamentária aprovada em Washington.
O termo usado por Trump ("EV mandate") também diz respeito à briga entre senadores do seu partido e o governo da Califórnia, com interesses dos republicanos também contrários às finanças da Tesla.
O que é o 'decreto dos carros elétricos'
Chamado de "Grande e Linda Lei" pela Casa Branca, o texto federal reduz incentivos fiscais para a compra de carros elétricos fabricados nos EUA. A lei foi instituída por Joe Biden, em um pacote de recuperação econômica pós-pandemia.
Benefícios como até US$ 7.500 de abatimento no imposto de renda para quem adquire veículo elétrico serão extintos antes da hora: ao invés de 2032, o programa acabará quase totalmente em 31 de dezembro de 2025. Categorias restantes devem cessar um ano depois.
Além disso, o governo federal criará um novo imposto anual de US$ 250 para donos de carros elétricos e US$ 100 para donos de híbridos. A justificativa é de que o tributo compensa os impostos que tais motoristas deixam de pagar na gasolina que não usam.
Problemas na Califórnia
Além dos ajustes no orçamento nacional, Musk enfrenta problemas com uma política estadual da Califórnia, que há anos busca acelerar a transição energética até proibir, daqui a dez anos, as vendas de carros que queimam combustível.
Dada a importância do mercado californiano, a lei influenciaria todo o mercado nacional, apontaram senadores republicanos. Assim, em 22 de maio os congressistas formaram maioria para anular o programa, alegando interferência indevida em outros estados.
A revogação também inclui um terceiro golpe em Elon Musk, já que ela também se estende aos créditos de carbono negociados no estado da Costa Oeste e que, em 2024, rendam US$ 2,4 bilhões à Tesla, pagos por rivais que não bateram suas metas de emissão.
O ato aguarda sanção presidencial para vigorar. A Califórnia já disse que irá à Suprema Corte recorrer do que, na visão do governo do estado, é a verdadeira invasão de competências.
Prejuízo bilionário
Sem os incentivos, analistas preveem que a adoção dos carros elétricos nos Estados Unidos perderá embalo. Sozinha, a Tesla representa 54% das vendas do setor, além de não ter nenhum produto com motor a combustão para amenizar o baque.
Um relatório do banco JPMorgan estimou que a medida poderá representar até US$ 1,2 bilhão em perdas à montadora. Caso Trump também ratifique a anulação do programa californiano, o prejuízo poderia superar os US$ 3 bilhões, afirmou o estudo.
Na quinta-feira (5), as ações da Tesla fecharam em queda de 14%, representando quase US$ 150 bilhões perdidos em valor de mercado.
Entre os motivos para a desconfiança, se juntam diversos investidores da marca, que acusam o protagonismo político de Musk de afastar potenciais compradores de carros da Tesla.
Agora também há receio de que, em resposta às acusações de crimes sexuais e à deserção do governo, Donald Trump tome decisões políticas direcionadas ao ex-"primeiro-camarada", como chamava o empreendedor.
Entre elas, há risco de alterações nas leis que regulam os testes com veículos autônomos, — um dos principais trunfos para que a Tesla permaneça relevante no segmento de elétricos.
Eventuais restrições, explica a casa de análises GLJ Research, poderia dar larga vantagem aos chineses na corrida pela automação veicular. "Isso seria um baita golpe nas ações da Tesla e em Musk", afirmou o analista Gordon Johnson à emissora ABC News.